Gatos ou Cães na Pet Terapia: Qual Animal Terapeuta é Mais Eficiente?

A conexão entre humanos e animais é antiga, profunda e cheia de benefícios. Nos últimos anos, essa relação ganhou um novo propósito: a pet terapia, também conhecida como terapia assistida por animais (TAA). Essa abordagem terapêutica utiliza a interação com animais domesticados para promover bem-estar físico, emocional e psicológico em pessoas de todas as idades.

Com o avanço das pesquisas e o aumento do reconhecimento científico dos efeitos positivos da presença animal, hospitais, clínicas, escolas e até centros de reabilitação passaram a adotar a presença de animais como parte complementar dos tratamentos. Entre os mais utilizados, destacam-se os cães e os gatos, cada um com suas características únicas que podem favorecer diferentes perfis de pacientes e objetivos terapêuticos.

Mas, afinal, qual desses animais é mais eficiente na pet terapia? Os cães, com sua energia e sociabilidade, ou os gatos, com sua tranquilidade e sensibilidade? Neste artigo, vamos explorar as vantagens terapêuticas de cada espécie e entender em que contextos cada um pode ser mais eficaz como “animal terapeuta”.

O Que É Pet Terapia?

A pet terapia, ou terapia assistida por animais (TAA), é uma abordagem terapêutica complementar que utiliza a interação com animais domesticados para promover benefícios à saúde física, emocional e social dos pacientes. Ela é aplicada por profissionais qualificados — como psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas ou médicos — que integram o animal como parte ativa do processo de tratamento.

A pet terapia pode ser dividida em dois principais tipos de intervenção:

Terapia Assistida por Animais (TAA): é uma intervenção estruturada, com objetivos terapêuticos bem definidos, planejada e conduzida por um profissional da saúde. O animal atua como um “co-terapeuta”, auxiliando no alcance de metas específicas, como melhorar a comunicação, reduzir níveis de estresse, estimular a mobilidade ou promover o vínculo emocional.

Atividades Assistidas por Animais (AAA): são mais flexíveis e informais. Envolvem visitas ou interações com animais, geralmente com foco em proporcionar bem-estar, lazer e conforto. Embora não tenham objetivos clínicos formais, as AAA ainda geram efeitos positivos para os participantes.

Diversos estudos já documentaram os benefícios da pet terapia, entre eles:

Redução da ansiedade, estresse e sintomas depressivos.

Estímulo ao desenvolvimento da empatia e habilidades sociais.

Melhora da autoestima e motivação em tratamentos longos.

Diminuição da pressão arterial e frequência cardíaca.

Estímulo à fala, à coordenação motora e à interação em crianças e idosos.

Esses efeitos positivos tornaram a pet terapia uma aliada valiosa em contextos diversos — de hospitais a escolas, de lares de idosos a centros de reabilitação. Com isso, surge uma dúvida recorrente entre profissionais e familiares: qual animal é mais eficaz como terapeuta, o gato ou o cão? A resposta não é simples — e é exatamente isso que vamos explorar a seguir.

Cães na Pet Terapia

Os cães são, sem dúvida, os animais mais populares na pet terapia — e não é difícil entender o porquê. Conhecidos por sua lealdade, sociabilidade e facilidade de treinamento, os cães possuem uma capacidade natural de se conectar emocionalmente com os seres humanos. Essas características fazem deles excelentes co-terapeutas em diferentes contextos.

Comportamento e características que favorecem a terapia

Cães costumam ser receptivos ao toque, gostam de interagir com pessoas e respondem bem a comandos, o que os torna ideais para ambientes terapêuticos controlados. Eles também demonstram empatia de forma espontânea — muitos são capazes de perceber estados emocionais, como tristeza ou ansiedade, e ajustar seu comportamento para oferecer conforto. Além disso, cães treinados para pet terapia são calmos, pacientes e não reagem agressivamente a estímulos comuns em hospitais ou lares, como barulhos altos ou movimentos bruscos.

Onde os cães terapeutas atuam

Os cães são amplamente utilizados em:

Hospitais e clínicas de saúde mental: para reduzir o estresse de pacientes internados ou em tratamento prolongado.

Lares de idosos: promovendo socialização, memória afetiva e alívio da solidão.

Escolas e centros educacionais: auxiliando crianças com dificuldades de aprendizagem, transtornos do espectro autista ou déficit de atenção.

Reabilitação física: incentivando o movimento, a coordenação e a recuperação em pacientes com mobilidade reduzida.

Evidências e estudos científicos

Diversas pesquisas apontam para os benefícios terapêuticos da presença canina. Um estudo publicado no American Journal of Critical Care, por exemplo, demonstrou que sessões curtas com cães reduzem significativamente os níveis de ansiedade em pacientes hospitalizados. Outro estudo, da Universidade de Missouri, mostrou que o simples ato de acariciar um cão pode liberar ocitocina — o hormônio do vínculo e do bem-estar — tanto no humano quanto no animal.

Além disso, cães têm se mostrado particularmente eficazes em contextos de terapia pós-trauma, como em programas de apoio a veteranos de guerra, vítimas de desastres naturais ou crianças em situação de vulnerabilidade emocional.

Com sua combinação de sensibilidade, energia e companheirismo, os cães continuam sendo uma das escolhas mais populares e eficazes na pet terapia. No entanto, isso não significa que eles sejam a única opção — como veremos a seguir, os gatos também têm um papel surpreendente e valioso nesse campo.

Gatos na Pet Terapia

Embora menos comuns do que os cães, os gatos vêm ganhando espaço na pet terapia — e com razão. Com seu comportamento tranquilo, postura mais reservada e sensibilidade emocional aguçada, os felinos podem ser terapeutas ideais em determinados contextos, especialmente quando o paciente necessita de uma interação mais sutil, silenciosa e respeitosa.

Comportamento felino e aplicação terapêutica

Diferente dos cães, os gatos não são naturalmente expansivos. Eles se aproximam com cautela, exigem um vínculo mais construído e proporcionam uma interação mais pausada e introspectiva. Essa natureza é especialmente benéfica para pessoas que se sentem sobrecarregadas com estímulos ou têm dificuldade de se abrir emocionalmente.

Além disso, a simples presença de um gato — com seu ronronar constante e toque suave — já tem efeito calmante documentado. Estudos mostram que o som do ronronar pode atuar como uma espécie de “frequência terapêutica”, ajudando na redução da pressão arterial e da frequência cardíaca.

Casos onde os gatos são preferidos

Gatos são especialmente valorizados em contextos como:

Autismo: crianças e adultos com transtorno do espectro autista (TEA) tendem a se beneficiar da previsibilidade e do comportamento não invasivo dos gatos. A interação acontece no ritmo do paciente, o que evita sobrecarga sensorial.

Ansiedade e depressão: o comportamento silencioso e reconfortante dos felinos pode ajudar a criar uma atmosfera segura e tranquila, ideal para aliviar sintomas de ansiedade crônica.

Pacientes introvertidos ou em luto: gatos oferecem companhia sem exigir interação constante, respeitando o espaço emocional das pessoas. Isso pode facilitar a construção de confiança ao longo do tempo.

Pesquisas e evidências

Um estudo realizado pela Indiana University revelou que donos de gatos relatam menor incidência de sentimentos negativos após interações com seus pets. Outro estudo da Frontiers in Veterinary Science destacou que sessões de terapia com gatos ajudaram a reduzir sintomas de estresse em estudantes universitários durante períodos de alta pressão acadêmica.

Além disso, organizações de pet terapia ao redor do mundo — como a Pet Partners, nos Estados Unidos — reconhecem oficialmente os gatos como animais aptos para intervenções terapêuticas, desde que passem por treinamento e avaliação comportamental adequados.

Embora não sejam ideais para todos os perfis de paciente, os gatos oferecem uma abordagem terapêutica mais sutil e introspectiva, que pode ser extremamente eficaz em casos onde a delicadeza e o respeito ao espaço pessoal são fundamentais.

Comparativo: Gatos vs. Cães na Pet Terapia

Agora que já analisamos as características de cães e gatos separadamente, é hora de olhar para o quadro geral: como eles se comparam na prática terapêutica? Ambos oferecem benefícios notáveis, mas seus perfis distintos influenciam diretamente na forma como contribuem para o tratamento — e na escolha do animal ideal para cada situação.

Do ponto de vista comportamental, os cães tendem a ser extrovertidos, sociáveis e ativos. São ideais para pacientes que precisam de estímulo emocional ou físico mais direto, como crianças com TDAH, idosos em reabilitação ou pessoas em busca de contato constante. Já os gatos possuem um temperamento mais reservado e tranquilo, o que os torna excelentes para interações mais sutis, acolhedoras e respeitosas — especialmente com pacientes ansiosos, em luto ou com perfil mais introspectivo.

No que diz respeito ao nível de treinamento, os cães geralmente exigem uma preparação mais intensa. Precisam obedecer comandos, manter o foco em ambientes cheios de estímulos e interagir com diferentes pessoas de forma controlada. Os gatos, por sua vez, não são treinados com os mesmos métodos, mas devem ser socializados para tolerar manipulação, ruídos leves e a presença humana com conforto.

Quando analisamos a adaptabilidade ao ambiente, os cães levam vantagem em locais movimentados como hospitais, escolas ou eventos coletivos. Eles lidam bem com barulhos, agitação e mudanças de rotina. Já os gatos se saem melhor em espaços mais calmos, previsíveis e silenciosos — como consultórios terapêuticos, residências e instituições com pouca circulação de pessoas.

A preferência dos pacientes também varia. Cães são geralmente mais populares entre crianças, grupos maiores e pessoas que buscam afeto imediato. Gatos, por outro lado, costumam conquistar quem valoriza o silêncio, o toque sutil e o vínculo que se constrói com tempo e respeito mútuo.

Quanto aos transtornos nos quais cada animal se destaca, os cães têm mostrado excelentes resultados em casos de autismo (TEA), depressão, TDAH e reabilitação física. Os gatos são especialmente eficazes em terapias voltadas para ansiedade, luto, transtornos sensoriais e situações em que o paciente se sente sobrecarregado com interações sociais intensas.

No fim das contas, a escolha entre cão e gato deve levar em consideração principalmente a personalidade do paciente, o ambiente da terapia e os objetivos clínicos. Pessoas mais comunicativas e que se beneficiam de estímulos externos costumam responder bem aos cães. Já pacientes que precisam de calma, silêncio e uma presença mais sutil podem encontrar nos gatos o terapeuta ideal.

Em vez de perguntar “qual é melhor?”, a verdadeira questão é: “qual animal combina mais com este paciente, neste momento, neste espaço?” Com essa perspectiva, cães e gatos deixam de competir entre si e passam a se complementar — oferecendo caminhos diferentes para o mesmo objetivo: o bem-estar emocional e psicológico de quem precisa.

Estudos de Caso ou Depoimentos

Nada ilustra melhor o impacto da pet terapia do que histórias reais. A seguir, compartilhamos relatos breves que mostram como cães e gatos podem transformar a vida de pacientes em diferentes contextos terapêuticos.

Caso 1 – O cão que ajudou na reabilitação de um idoso pós-AVC

“Após sofrer um AVC, seu João, de 74 anos, teve dificuldades de locomoção e perda de motivação para continuar com a fisioterapia. Foi quando a equipe do centro de reabilitação introduziu Thor, um golden retriever treinado para pet terapia. Com a presença do cão, seu João passou a se movimentar mais, tentando jogar bolinhas e acariciar o animal. Em poucos meses, o progresso foi notável. A terapeuta física relatou que a melhora emocional foi tão significativa quanto a física: ‘O Thor trouxe alegria e propósito às sessões’.”

Caso 2 – A gata que ajudou uma adolescente com ansiedade social

“Marina, 15 anos, enfrentava crises de ansiedade intensa e fobia social. Durante as sessões de psicoterapia, tinha dificuldade de falar ou manter contato visual. A introdução de Luna, uma gata calma e afetuosa, mudou o ambiente. Luna se aproximava lentamente, sentava-se próxima e ronronava suavemente. Aos poucos, Marina começou a acariciá-la, e esse gesto se tornou um ponto de conexão emocional. Segundo a psicóloga responsável: ‘Luna criou uma ponte silenciosa que permitiu a Marina se abrir no tempo dela’.”

Caso 3 – Intervenção escolar com cães para crianças com TDAH

“Em uma escola pública de São Paulo, um projeto piloto de pet terapia trouxe cães treinados para interagir com alunos com TDAH. As sessões semanais incluíam atividades de foco e controle emocional com os animais. Professores notaram melhora significativa na concentração e redução de episódios de agitação. Um dos alunos disse: ‘Quando estou com o Max (o cão), eu fico mais calmo e consigo pensar antes de agir’.”

Caso 4 – Consolo silencioso de um gato em um lar de idosos

“Dona Elvira, 82 anos, vivia em um lar de longa permanência e passava a maior parte do tempo em silêncio desde a perda do marido. Foi nesse cenário que apareceu Tico, um gato adotado pelo abrigo. Tico começou a visitar o quarto de Elvira todos os dias, deitava-se ao seu lado e dormia por horas. A cuidadora relatou: ‘Ela não fala muito, mas sorri quando o vê. E o simples ato de esperar por ele todos os dias trouxe nova rotina e sentido à sua vida’.”

Esses relatos mostram que tanto cães quanto gatos podem atuar como agentes de cura e conexão emocional, cada um ao seu modo. O sucesso da pet terapia está na sensibilidade de escolher o animal certo para a pessoa certa — e permitir que o vínculo floresça naturalmente.

Qual é Mais Eficiente?

Diante de todas as evidências apresentadas, surge a pergunta central deste artigo: afinal, quem é mais eficiente na pet terapia — o gato ou o cão? A resposta, como vimos, não é tão simples quanto escolher um favorito. A eficácia da terapia assistida por animais depende de uma série de fatores que vão muito além da espécie.

O que dizem os estudos?

Os cães lideram em número de pesquisas, aplicações e popularidade na pet terapia. Sua facilidade de treinamento, sociabilidade e capacidade de atuar em grupos ou locais movimentados os tornam ideais para uma variedade de contextos — especialmente quando há necessidade de estímulo físico, interação ativa ou desenvolvimento de habilidades sociais.

Por outro lado, os gatos, mesmo com menor presença em estudos formais, vêm demonstrando uma atuação cada vez mais valorizada. Sua postura tranquila, o respeito pelo espaço do outro e o poder calmante do ronronar os tornam extremamente eficazes em contextos mais sensíveis, como casos de ansiedade, autismo, depressão e luto.

Cada paciente é único

Mais importante do que escolher “o melhor animal” é entender o perfil e as necessidades individuais de cada paciente. Uma criança hiperativa pode se beneficiar da energia estruturada de um cão terapeuta, enquanto um adulto em luto ou uma pessoa com fobia social pode encontrar mais conforto na presença silenciosa de um gato.

O ambiente também influencia: hospitais com grande circulação de pessoas podem ser mais adequados para cães treinados para lidar com estímulos variados, enquanto espaços menores e silenciosos podem favorecer a presença felina.

Conclusão: mais adequado, não melhor

Portanto, não existe um animal universalmente mais eficiente na pet terapia. O que existe é a escolha mais adequada para cada contexto, objetivo terapêutico e perfil emocional. Gatos e cães oferecem caminhos diferentes para o mesmo destino: o bem-estar e a conexão humana.

Em vez de perguntar “qual é melhor?”, talvez devêssemos nos perguntar: “qual é melhor para essa pessoa, nesse momento?” Essa sensibilidade é o que torna a pet terapia tão poderosa — e tão humana.

Conclusão

Ao longo deste artigo, exploramos o universo da pet terapia e o papel transformador que gatos e cães desempenham como co-terapeutas em diferentes contextos de cuidado. Vimos que cada espécie possui características únicas: enquanto os cães são ótimos em promover interação ativa, movimento e socialização, os gatos se destacam em oferecer conforto emocional silencioso, acolhimento e tranquilidade.

Analisamos também como o perfil do paciente, o tipo de transtorno e o ambiente terapêutico influenciam diretamente na escolha do animal mais apropriado. Evidências científicas, estudos de caso e experiências clínicas reforçam que não há um “melhor animal terapeuta” universal, mas sim o mais adequado para cada situação.

Mais do que uma tendência, a pet terapia é uma prática séria, que exige responsabilidade, ética e respeito pelo bem-estar dos animais envolvidos. A inclusão de cães e gatos como agentes terapêuticos deve ser sempre conduzida por profissionais capacitados e com foco no cuidado mútuo — tanto do paciente quanto do pet.

E você? Já parou para pensar qual animal combina mais com seu perfil terapêutico ou com as necessidades dos seus pacientes? Seja cão ou gato, o mais importante é reconhecer o poder genuíno da conexão entre humanos e animais — uma parceria silenciosa, mas profundamente curativa.

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