“Lambidas de Esperança: Quando a Pet Terapia Reduziu a Dor de um Paciente Oncológico”

A conexão entre humanos e animais vai muito além da companhia: ela toca o emocional, acalma o espírito e, em muitos casos, alivia até a dor física. Nos últimos anos, a ciência passou a validar algo que muitos já sabiam de forma intuitiva — os animais têm um poder terapêutico real e profundo.

Esse poder se manifesta de forma especial na chamada pet terapia, também conhecida como terapia assistida por animais. Trata-se de uma abordagem complementar na área da saúde, em que cães, gatos e até cavalos participam de sessões estruturadas para promover bem-estar emocional, físico e psicológico em pacientes com diferentes condições. Não é mágica. É empatia em forma de patas, lambidas e olhos atentos.

Neste artigo, vamos conhecer a história de Júlia, uma paciente oncológica que, em meio ao desgaste de um tratamento difícil, redescobriu a esperança nos olhos brilhantes de um cão terapeuta. Mais do que aliviar a dor, aquele encontro mudou a forma como ela enfrentava seus dias.

Porque, às vezes, em meio à dor, um rabo abanando pode mudar tudo.

O que é Pet Terapia?

A pet terapia, ou terapia assistida por animais (TAA), é uma prática que utiliza a interação entre seres humanos e animais para promover benefícios terapêuticos, tanto físicos quanto emocionais. Ao contrário de uma simples visita de um animal de estimação, a pet terapia é conduzida de forma estruturada e supervisionada, geralmente com a participação de profissionais da saúde e animais treinados para esse fim.

A origem dessa abordagem remonta ao século XIX, quando Florence Nightingale, pioneira da enfermagem moderna, observou que pequenos animais ajudavam na recuperação emocional de pacientes internados. Mas foi na década de 1960, com o psiquiatra Boris Levinson, que a pet terapia começou a ser estudada com maior rigor científico, após ele perceber que seu cachorro facilitava a comunicação com crianças autistas.

Desde então, diversos estudos passaram a comprovar os benefícios da pet terapia em ambientes hospitalares, lares de idosos, escolas e centros de reabilitação. Entre os resultados mais citados estão:

Redução da dor e da ansiedade

Diminuição da pressão arterial e dos níveis de cortisol (hormônio do estresse)

Melhora no humor e na socialização de pacientes

Estímulo à recuperação motora e cognitiva

Por exemplo, uma pesquisa publicada no Pain Management Nursing mostrou que pacientes submetidos a sessões de pet terapia relataram menor percepção da dor durante internações hospitalares. Outra revisão sistemática publicada no Frontiers in Psychology destacou os impactos positivos da presença de animais na saúde mental e emocional de pacientes oncológicos e idosos.

Embora os cães sejam os mais utilizados pela facilidade de adestramento e pelo temperamento amigável, outros animais também participam de programas de terapia, como:

Gatos – ideais para ambientes mais silenciosos e pacientes com mobilidade reduzida

Coelhos e porquinhos-da-índia – muito usados em terapias com crianças

Cavalos – em programas de equoterapia, voltados à reabilitação física e neurológica

Aves e até peixes ornamentais – utilizados em técnicas de relaxamento e atenção plena

A pet terapia é, acima de tudo, um lembrete de que o afeto pode ser uma forma poderosa de cuidado — e, muitas vezes, ele vem de quatro patas.

Conheça Júlia: Uma Paciente, um Desafio, uma Nova Esperança

Júlia tinha 42 anos quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado. Mãe de um menino de 8 anos e professora da rede pública, ela sempre foi uma mulher ativa, otimista e cheia de planos. Mas, após iniciar a quimioterapia, o cansaço físico, a dor constante e os efeitos colaterais começaram a obscurecer seu brilho. O abatimento emocional se intensificou com a queda de cabelo e a necessidade de se afastar do trabalho e da rotina familiar. Júlia, que sempre cuidou de todos, agora se sentia isolada, frágil e, nas palavras dela, “perdendo o controle do próprio corpo”.

Foi nesse cenário delicado que a equipe do hospital sugeriu a inclusão da pet terapia como parte do tratamento de suporte. Inicialmente cética, Júlia hesitou. “Não era hora de brincar com cachorro”, pensava. Mas aceitou participar de uma sessão como observadora, apenas para “ver no que dava”.

Naquela tarde, um cão labrador chamado Thor, de pelagem dourada e olhos serenos, entrou na sala de atendimento. A princípio, Júlia manteve certa distância. Mas Thor, paciente e tranquilo, apenas se sentou ao seu lado, repousando a cabeça sobre seus joelhos. Ela sentiu o calor do corpo dele, o toque suave do focinho úmido em sua mão, e uma respiração calma que parecia desacelerar até a dela. Sem perceber, começou a acariciar aquele corpo peludo e acolhedor, como se aquele gesto despertasse uma parte dela que estava adormecida.

A emoção veio silenciosa, como lágrimas que escorrem sem pedir permissão. Não foi um milagre. A dor continuava ali. Mas algo dentro dela havia mudado: pela primeira vez em semanas, Júlia sorriu.

Aquele foi o primeiro de muitos encontros. E a cada nova visita, Thor não apenas abanava o rabo — ele trazia esperança.

O Impacto da Pet Terapia no Tratamento

Após a primeira interação com Thor, os efeitos da pet terapia começaram a se manifestar de forma gradual, mas notável, no dia a dia de Júlia. Segundo os relatos da equipe médica e da própria paciente, houve melhora significativa em vários aspectos do seu estado clínico e emocional.

As sessões semanais com Thor passaram a ser momentos aguardados com expectativa. A dor, embora ainda presente, tornou-se mais suportável — não apenas pelo efeito calmante do animal, mas porque o humor de Júlia começou a mudar. O sorriso que havia desaparecido aos poucos foi voltando. Ela passou a comer melhor, a dormir com mais tranquilidade nas noites pós-visita e, principalmente, a interagir novamente com os profissionais e outros pacientes da ala oncológica.

O oncologista responsável pelo tratamento, Dr. Rafael Mendes, comentou:

“Houve uma mudança perceptível. A Júlia, que costumava chegar cabisbaixa às consultas, passou a fazer perguntas, olhar nos olhos e até brincar. A pet terapia não substitui o tratamento, mas potencializa seus efeitos ao restaurar a conexão da pessoa com a vida.”

A própria Júlia descreveu a experiência de forma comovente:

“Eu achava que não tinha mais espaço para alegria durante o tratamento. Mas o Thor me lembrou que, mesmo na dor, ainda existe carinho, acolhimento e leveza.”

A relação entre o estado emocional e a resposta ao tratamento oncológico é amplamente documentada. Estudos mostram que o bem-estar psicológico pode influenciar diretamente a adesão ao tratamento, a resposta imunológica e até a percepção da dor. Segundo um artigo publicado na Journal of Clinical Oncology, pacientes com suporte emocional positivo apresentam melhores índices de recuperação e qualidade de vida durante a quimioterapia.

A pet terapia atua justamente nesse ponto: ela não cura o câncer, mas contribui para um cenário mais favorável à recuperação, promovendo alívio emocional, reduzindo o estresse e devolvendo ao paciente um sentimento vital de humanidade.

No caso de Júlia, Thor não foi apenas um visitante de quatro patas. Ele foi, como ela diz, “meu analgésico com rabo abanando”.

Por Que Funciona? A Ciência por Trás da Emoção

O que acontece no corpo e na mente de uma pessoa quando um cão entra sorridente em um quarto de hospital? Mais do que um momento “fofo”, há uma série de reações neuroquímicas e fisiológicas que explicam por que a pet terapia pode ser tão eficaz no alívio da dor e no bem-estar de pacientes, especialmente os oncológicos.

Quando uma pessoa interage com um animal de forma positiva — por exemplo, ao acariciar um cão terapeuta — o sistema nervoso parassimpático é ativado. Isso promove um estado de relaxamento, reduz os batimentos cardíacos e a pressão arterial, e induz sensações de calma e segurança.

Além disso, estudos mostram que esse tipo de contato promove a liberação de ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor e da confiança”. Esse mesmo hormônio é responsável por criar vínculos sociais e gerar sensações de afeto e bem-estar emocional. Ao mesmo tempo, os níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse, diminuem — o que é essencial para pacientes oncológicos, cujo sistema imunológico já está comprometido.

A ciência também aponta que o cérebro reage à interação com animais de forma semelhante ao que acontece com estímulos positivos como música ou meditação. A presença de um animal proporciona uma distração ativa, ou seja, o foco da atenção é desviado da dor e da angústia para algo emocionalmente reconfortante.

Segundo um estudo publicado no Pain Medicine, pacientes que participaram de sessões de pet terapia relataram redução significativa da percepção da dor após apenas 10 minutos de interação com cães treinados. Outra pesquisa, publicada na Psychoneuroendocrinology, revelou que apenas 15 minutos de contato com animais aumentam os níveis de dopamina e serotonina, neurotransmissores associados ao prazer e à motivação.

Esses mecanismos ajudam a explicar por que Júlia, mesmo em meio a um tratamento tão agressivo, passou a sentir menos dor, dormir melhor e se comunicar com mais entusiasmo após as sessões com Thor. O alívio não veio apenas do coração — veio do cérebro e da química interna que se transformou com cada lambida, olhar e carinho compartilhado.

A pet terapia é, assim, uma ponte entre o emocional e o fisiológico — um cuidado que toca o que muitas vezes os medicamentos não alcançam.

A História Continua: Um Laço Que Transcende o Hospital

O tratamento oncológico de Júlia chegou ao fim meses depois do primeiro encontro com Thor. Entre sessões de quimioterapia, exames e dias difíceis, havia sempre um momento que iluminava sua semana: as visitas daquele labrador de olhos calmos e coração gigante. Mas, mesmo após a última dose de medicação, a relação entre os dois não terminou com a alta médica.

Júlia continuou visitando Thor no centro de pet terapia onde ele era atendido. O vínculo formado entre os dois — construído não com palavras, mas com presença, toque e confiança — se manteve firme. A cada reencontro, a alegria era evidente: para Júlia, era como reencontrar um velho amigo que segurou sua mão no momento mais difícil; para Thor, bastava um rabo abanando para mostrar que também lembrava dela.

Mais do que lembranças, a pet terapia deixou marcas profundas e positivas na forma como Júlia passou a enxergar a vida, a saúde e o cuidado. Ela mesma conta que aprendeu, com Thor, a valorizar o presente e a encontrar beleza nos pequenos gestos. Hoje, ela é voluntária em uma ONG que promove visitas com animais em hospitais, levando a outros pacientes o mesmo conforto que um dia recebeu.

Esse tipo de transformação é um exemplo claro do papel da medicina integrativa, uma abordagem que une o tratamento convencional com práticas complementares — como a pet terapia — para oferecer cuidado integral ao paciente. Mais do que tratar a doença, a medicina integrativa busca tratar a pessoa como um todo, considerando corpo, mente, emoções e espiritualidade.

A história de Júlia nos lembra que a cura vai além do desaparecimento do tumor. Cura também é reencontrar a esperança, sentir-se acolhido, recuperar a vontade de viver. E, às vezes, quem oferece esse caminho não usa jaleco — usa coleira e tem quatro patas.

Como Ajudar ou Participar?

A história de Júlia e Thor é inspiradora — mas não precisa ser única. Milhares de pessoas em todo o Brasil podem se beneficiar da pet terapia, e você pode fazer parte desse movimento de carinho e cuidado. Seja como voluntário, tutor de um animal terapeuta ou apoiador, há diversas formas de se envolver.

Seja um voluntário com seu animal

Se você tem um cão dócil, calmo e sociável, ele pode ser um ótimo candidato à pet terapia. O primeiro passo é buscar organizações sérias e reconhecidas que oferecem formação, avaliação comportamental e acompanhamento para garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos.

Requisitos básicos:

O animal deve ter temperamento tranquilo e gostar do contato com pessoas.

Estar com vacinas e vermifugação em dia.

Passar por um processo de avaliação comportamental e treinamento específico.

O tutor também passa por capacitação e precisa estar comprometido com o programa.

Instituições que promovem Pet Terapia no Brasil

Confira algumas ONGs e instituições respeitadas que atuam com pet terapia:

Projeto Pêlo Próximo (RJ) – realiza visitas em hospitais, asilos e escolas.

PAT – Programa de Ação Terapêutica com Animais (SP) – referência em treinamento e atuação em instituições de saúde.

Cão Terapeuta (SP) – parceria com o Instituto Cão Companheiro.

Terapia do Riso com Cães (PR) – atua em hospitais e centros de reabilitação.

Apoie financeiramente ou com doações

Se você não pode participar diretamente, ainda pode ajudar a manter esses programas ativos por meio de:

Doações em dinheiro, ração ou itens de higiene e pet shop.

Apoio à divulgação nas redes sociais.

Participação em campanhas de financiamento coletivo.

Muitas dessas instituições sobrevivem exclusivamente da solidariedade de pessoas que acreditam no poder transformador do amor animal.

Espalhe a ideia

Compartilhe histórias como a de Júlia. Converse com profissionais da saúde, escolas ou centros comunitários sobre a importância da pet terapia. Quanto mais pessoas souberem dos benefícios reais dessa prática, mais pacientes poderão sentir o conforto de uma lambida de esperança.

Conclusão

A história de Júlia e Thor nos mostra que, mesmo nos momentos mais sombrios, o afeto pode abrir espaço para a luz. Em meio à dor física, ao medo e à exaustão emocional que acompanham o tratamento oncológico, uma simples presença — de quatro patas, focinho úmido e olhar acolhedor — pode resgatar algo essencial: a vontade de viver.

Mais do que um cão terapeuta, Thor foi um catalisador de esperança. Ele não curou o câncer, mas ajudou a curar feridas invisíveis — aquelas que a medicina tradicional, por si só, nem sempre alcança. O carinho silencioso de um animal pode não aparecer nos exames de sangue, mas é sentido no brilho de um olhar, no riso que escapa, no gesto que volta a ser espontâneo.

A jornada de Júlia é um lembrete poderoso da importância de abordagens humanizadas e integrativas no tratamento oncológico. A medicina avança, sim, com tecnologia e protocolos. Mas ela floresce, verdadeiramente, quando é combinada com empatia, acolhimento e conexão — e os animais são mestres nisso.

Se essa história tocou você, não a guarde só para si.

Compartilhe essa história e espalhe esperança com lambidas.

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